Elétrico<
Assim como o Sex Pistols está para o punk inglês, o Aborto elétrico está para o punk brasiliense.
O Aborto Elétrico surgiu em 78, mas só foi fazer os primeiros ensaios no início do ano seguinte. A idéia de formar o Aborto Elétrico surgiu da cabeça de três pessoas que, praticamente, começaram essa história toda (de Turma de Brasília). Ainda mais com Andre Pretórius, um dos mais respeitados da Turma, fazendo parte dela. Por isso tudo, antes mesmo de existir na prática, a banda já era respeitada. A princípio, não havia letras. Aos poucos, Renato (Russo) e Fê (Lemos) começaram a escrever. Assim surgiram músicas como “Que País é Este?”, ”Conexão Amazônica”, ”Veraneio Vascaína”, ”Música Urbana”, ”Química”, “Tédio (Com o T bem Grande Pra Você)”, e outras menos conhecida.
Nessa época, Renato Russo já era dono de uma personalidade forte. Fê também tinha a sua e isso culminou em algumas brigas que desgastaram o relacionamento entre os dois. Assim, Renato saiu da banda. Mas ela continuou a tocar. Fê, Flávio e Iko fizeram alguns ensaios, dividindo os vocais e até compondo novas músicas.
Fê – Teve uma festa, no começo de 78, na qual eu conheci o Renato. Foi uma festa numa superquadra. Eu fui com o Toninho Maya. A partir dessa festa, o Renato começou a freqüentar a Colina. Eu ia muito à casa dele. Aí, no segundo semestre, montamos o Aborto. Apesar da banda já existir, não tocávamos porque minha bateria só chegou no Brasil no fim de 78.
O engraçado é que antes de montar o Aborto Elétrico eu, Andre Pretórius e Renato nos conhecíamos, mas não sabíamos que os três se conheciam um ao outro. Foi no dia em que descobrimos isso que o Aborto começou. Foi numa reunião que decidimos o nome. Eu gostava muito de uma banda chamada Eletric Flag, então sugeri que o nome fosse Tijolo Elétrico. Eles me olharam feio, com cara de reprovação, e o Pretórius, na hora, falou:”Não, vai se chamar Aborto Elétrico”. (Segundo uma lenda corrente em Brasília, a polícia utilizou cassetetes elétricos numa das invasões da UNB (Universidade de brasília), que chegaram a ser usados contra grávidas.) Olhamos um para cara do outro e aprovamos. Os primeiros ensaios rolaram na Colina, no bloco A, apartamento 33. Esses ensaios eram freqüentados pelo Geraldo, Loro e Gutje, que depois formaram a Blitx 64. Foi em 79 que começamos a tocar.
O primeiro show do Aborto Elétrico foi em 11 de janeiro de 1980, no Só Cana, que ficava no Gilberto Salomão. O repertório tinha umas seis ou sete músicas e tivemos que repeti-las. Foi todo instrumental, porque ninguém cantava. Nesse dia, eu estava com muito frio e toquei com um agasalho. O show foi muito bom, e por isso íamos tocar no dia seguinte também. Mas eu acordei mal, com febre e catapora. Não pude ir. o Pretórius ficou frustrado. Depois desse show, ele foi pra África servir no exército. Aí, eu e o Renato ficamos procurando um guitarrista. Chegamos a tocar umas duas vezes com um cara, mas não deu certo.
No Natal de 80, o Pretórius voltou à Brasília pra ficar com a família. Aí nós fizemos um show. Depois disso, ele ainda voltou mais uma vez, no Natal seguinte, na mesma época em que fizemos “Música Urbana”.
No fim de 81, já tinha a Plebe Rude. Eles estavam indo superbem. teve um show no setor de clubes Norte. O Pretórius foi ao show. Como fora do país já estava começando a surgir o pós-punk com o PIL, Gang of Four, B-52’s, Pretenders, e todo movimento New Wave, ele nos criticou por estarmos estagnados naquele estilo (o punk).
Flávio – Nunca vi um show do Aborto com o Andre Pretórius. vi alguns ensaios. Lembro de um que rolou no auditório da Cultura Inglesa. Inclusive, eu levei um gravador para registrar, mas ele era 110V e a tomada, 220V, e o gravador pifou.
Um pouco antes do Pretórious ir embora, teve um ensaio lá no nosso apartamento na Colina. Eles estavam tocando “Now I Wanna Sniff Some Glue”, dos Ramones, e o Renato não conseguia tocar e cantar ao mesmo tempo. Então, ele me passou os acordes, que eram apenas dois, e eu fiquei tocando pra ele cantar. Até então nunca tinha tocado baixo. Depois disso o Pretórius foi embora e eles tentaram arrumar um guitarrista novo, mas não encontraram a pessoa certa. Até que um dia o Renato perguntou pra mim se eu queria tocar baixo, e eu topei. Fui a casa dele e ele me passou as músicas.
Helena – No show do Aborto, no Cruzeiro, o Fê jogou uma baqueta no Renato. Aí, ele parou de cantar e acabou o show. Depois disso, o Renato saiu da banda.
Iko – O Aborto já tinha, talvez, um ano de existência quando eu vi um show pela primeira vez. Achei bem legal, mas eu gostava de outro tipo de música, como Deep Purple e Led Zeppelin. Foi o Aborto que me mostrou The Clash, Damned, 999. Eu sabia tocar violão. Minha formação era violão clássico e eu estava começando a tocar guitarra. Antes de entrar pra banda, eu fazia um duo acústico com o Renato. Tocávamos só em casa. Depois ele me convidou pra fazer parte da banda.
Fê – A Inês foi minha primeira namorada e, por isso, o meu contato com o Renato foi esfriando. Então começou um período de saco cheio na banda. Foi aí que eu comecei a ter outros interesses. Até então, eu e o Renato éramos unha e carne.Eu era mais novo do que ele, e a cabeça dele já estava anos-luz à frente de qualquer outra. Brigamos durante o show no Cruzeiro, que foi no dia da morte de John Lennon. O Renato estava um pouco sentido com isso e eu tive um certo ciúme pelo fato dele não estar cem por cento concentrado no show. Fomos tocar num clima ruim. Aí, no meio da apresentação, quando estávamos tocando “Veraneio Vascaína”, o Renato errou e eu, impulsivamente, joguei uma baqueta nele que acertou seu rosto. Tocamos mais uma música e ele sumiu. Quando fui procurá-lo, me disseram que ele tinha ido embora, aí me toquei da minha atitude. Fui atrás dele e ele me falou que a banda tinha acabado. Pedi mil desculpas, implorei e ele voltou atrás. Mas não durou muito.
O Aborto fez um show antológico na sala Funarte conseguimos fazer através da Fundação Cultural, no final de 81. Esse show com o Iko Ouro-Preto. Ele entrou na banda em meados de 81. Logo depois, no início de 82, o Renato saiu, mas eu, Flávio e Iko demos continuidade à banda. Isso quase ninguém lembra. ainda tivemos uns dois meses de ensaio. Foi aí que comecei a escrever. Chegamos a marcar um show na faculdade de Educação Física da UnB. Tinha uma estrutura legal, com palco e tudo mais. Nesse show, tocou o Dado e o Reino Animal e a Plebe Rude, que era a principal atração. Na hora do Aborto elétrico tocar, o Iko sumiu, desapareceu. Eu entrei em desespero e fui procurar o Renato, que estava lá. Mas, essa época, não nos falávamos muito, e pedi pra ele tocar, por causa da galera que estava esperando. Ele olhou pra minha cara, viu a galera topou. O show foi animal, tinha muita gente. O Renato tocou guitarra e cantou. Algumas pessoas já conheciam músicas como “Que País é Este?”, “Tédio”, “Veraneio Vascaína”, e cantavam junto. Foi do caralho. Depois desse show, a banda realmente acabou.
Flávio – Na verdade, o Iko não amarelou, ele simplesmente disse que não iria tocar pois estávamos mal ensaiados e ele não estava a fim de passar vergonha.
Iko – Essa história de aversão ao palco é verdadeira. Não me sentia bem, nunca gostei de palco. Depois descobri que prefiro estar por trás da cena. Não é a toa que hoje sou fotógrafo. Eu nem me lembro do motivo pelo qual não toquei no festival da ABO – quando ainda era guitarrista da Legião Urbana - , talvez porque não estava mais a fim de tocar. Aliás, nunca mais toquei, nem sozinho em casa. Minhas guitarras e violões dei ao Dinho e ao Dado.
Bonfá – Eu lembro de quando vi, pela primeira vez, Aborto Elétrico. Foi no Colégio Objetivo, onde eu estudava. Iam tocar Aborto e Blitx 64, mas o pessoal da Blitx foi barrado na porta do colégio. Lembro que, nos shows do Aborto, as cordas da guitarra sempre quebravam e mesmo assim a banda continuava. Podia ter uma corda só que eles não paravam de tocar. Era muito bom. Era muita energia.
Bi – Eu fui ao show do Aborto Elétrico na sala Funarte. Inclusive, o Iko tocou com uma guitarra que depois ficou com o Herbert.
Pedro Ribeiro – A 104 Sul é praticamente vizinha da 303 Sul, quadra em que o Renato morava. Por isso, ele ia muito nos visitar. Lá tinha uma banda que chamava O Vento, de filhos de diplomata. O Renato ia aos ensaios e nós também. Conhecíamos todo mundo, o víamos lá, mas não éramos amigos. ele era apenas mais um cara assistindo ao ensaio.
Dinho – O Andre Pretórius quase ninguém conhecia. Quando eu cheguei em Brasília, ele tinha acabado de ir embora e todo mundo falava dele como o guitarrista mitológico do Aborto Elétrico. Quando a turma da 104 Sul entrou em contato com a Turma da Colina, o Aborto já tinha dois anos de história.
Manteiga – Lembro do primeiro show do aborto Elétrico, em que o Pretórius perdeu a palheta mais continuou tocando. Quando terminou o show, os dedos dele estavam pingando sangue. Ele rasgou um pedaço da camiseta para enrolar nos dedos.
Dinho – Quando eu namorava a Helena Lemos, via todos os ensaios do Aborto, porque eles ensaiavam na casa do Fê e eu vivia lá. Foi aí que conheci legal o Fê e o Flávio.
Ana Galbinsky – Lembro de um show do Aborto no colégio Marista, com a Chris berrando no vocal.
Ana Rezende – Eu e a Chris chegamos a ensaiar com o Aborto Elétrico. Eu namorava o Flávio e a Chris namorava o Fê, mas foi um namoro rápido. Chegamos a gravar uma música numa fita de ensaio. Escutamos e vimos que era uma merda, não dava para escutar nada.
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quinta-feira, 6 de maio de 2010
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