Sinopse
Sob a lona do Circo Voador, um jovem muito maquiado canta uma música em inglês. Poderia ser apenas mais um entre inúmeros aspirantes ao sucesso que se apresentavam no espaço mais democrático da época. No entanto, Cazuza não ficaria muito tempo na tribo dos talentos promissores.
Instável e desafiador, mas também extremamente sedutor, ele vivia sua confortável vida de garoto da Zona Sul sob a cerrada vigilância da mãe. Mas Cazuza queria mais – na verdade, queria muito mais. Cazuza queria tudo, ao mesmo tempo, em um agora permanente.
Sua urgência transgressora que não conhecia limites e se refletia em todas as áreas de sua vida – nas relações afetivas, nas novas experiências, no amor pelo perigo, na criação artística. E ele logo descobriu que a música era a melhor maneira de expressar essa urgência que não tinha começo, não tinha fim, não tinha foco. Cazuza vivia tudo ao mesmo tempo ao lado de sua tchurma – uma tchurma eclética e heterogênea que refletia vários lados de sua própria personalidade.
O encontro com os Barões – o guitarrista Roberto Frejat, o baixista Dé, o baterista Guto Gofi, o tecladista Maurício - músicos de sua idade a procura de um novo som, foi a primeira etapa de sua vitoriosa carreira de letrista. Junto com os Barões, Cazuza viaja, conhece o Brasil, vive novos afetos. Para atenuar a intensificação de conflitos familiares, é intimado a trabalhar com o pai, diretor de uma gravadora, onde conhece Zeca, produtor musical experiente, que se transforma em uma espécie de guru que lhe apresenta novos autores e poetas.
O jovem inquieto passa a surpreender com letras de alta densidade poética, que definiam sentimentos e idéias para a sua própria geração, até então, sem porta-voz. A apoteótica apresentação do Barão Vermelho no 1o Rock in Rio em 1985 era a prova de que aqueles jovens que cresceram sob a ditadura podiam finalmente cantar “para o dia nascer feliz”.
O sucesso, no entanto, não domesticou as arestas do novo ídolo. Viver cada vez mais intensamente, romper limites, correr todos os riscos faziam parte de seu show cotidiano, monitorado, na medida do possível, por uma mãe atenta e preocupada, mas também orgulhosa do talento do filho que adorava acima de tudo. A falta de regras se incluía na seleção de repertório, e ele surpreendeu novamente, por exemplo, ao cantar “As rosas não falam”, de Cartola, uma opção inesperada para um roqueiro.
O diagnóstico de que era portador do vírus HIV foi recebido pelo jovem artista com desespero, seguido da busca de novas formas de tratamento para uma doença que na época representava uma sentença de morte a curtíssimo prazo. E foi justamente sob esta condenação que Cazuza deu provas de uma coragem sem precedentes no país: expôs a doença e sua deterioração física, apresentou-se em público em shows comoventes, não abriu mão dos poucos prazeres que lhe restavam, disposto a viver o tempo que tivesse como sempre quis: fiel a si mesmo e aos seus sentimentos. No curto futuro duvidoso que viveu, Cazuza nunca mentiu para si mesmo ou para as pessoas que amava.
Cazuza morreu em 1990 aos 32 anos.